Após meses de silêncio, Tiger Woods convocou uma conferência de imprensa e veio esta tarde, perante os milhares de pessoas que assistiram às declarações, pedir desculpa por um comportamento impróprio. Em causa está a sua suposta dependência de sexo e os inúmeros casos extraconjugais que manteve ao longo dos anos.
As palavras de autocomiseração - "É difícil admitir que preciso de ajuda, mas é assim mesmo" -, a postura de vergonha com que se apresentou - "Fui infiel, mantive casos e enganei. O que fiz não é aceitável e sou o único culpado" -, tudo aquilo me meteu um imenso nojo e me tresandou a circo mediático da pior espécie.
Não querendo medir a envergadura do seu arrependimento, questiono-me sobre a necessidade de trazer uma questão que é meramente particular para a praça pública. Assisti às declarações na CNBC e fiquei completamente siderada quando ouvi um dos apresentadores defender que Tiger deveria ter vindo desculpar-se em público há muito tempo e que devia uma explicação aos seus seguidores.
Bolas, as desculpas que ele deve são à mulher e, convenhamos, não deve haver muita gente no mundo que possa legitimamente apontar-lhe o dedo por ter sido infiel.
Fez-me especial confusão o ar condoído de Tiger Woods, como se carregasse às costas o peso de mil mundos. Como se a traição à mulher o transformasse num ser desprezível e sem moral, um verme rastejante que não merece viver e deve carregar para sempre o estigma da vergonha. Em bom português se diz: é preciso ter lata!
Traiu, e isso não é bonito, mas que atire a primeira pedra quem nunca errou. Há mesmo necessidade de fazer disto um acontecimento tão relevante para a humanidade como o massacre de Srebrenica?
E, já agora, para os defensores do argumento de que Tiger é um herói nacional e tem a responsabilidade de dar bons exemplos às crianças que o admiram, vejam lá bem se não é pior exemplo arrastar pela lama mediática o nome da mulher do que proteger a sua dignidade e resolver o caso entre as paredes do lar. Há coisas que é como dizia a minha sábia avó: quanto mais lhes mexes, mais mal cheiram.
E só para terminar, também gostava imenso de saber o que é isso de se ser viciado em sexo. Será que há indicadores científicos que definem o número de vezes que alguém pode praticar o acto por dia? Então e se ultrapassar esse índice do amor só uma vez ou duas no dia dos namorados, deve o prevaricador ir inscrever-me nos sexólicos anónimos? E com que critérios chegaram a este número? Será que ter muitos orgasmos ao longo da vida nos faz mal à saúde, ou ficamos só com os olhos tortos?
Ou será que andamos (outra vez) a tentar rotular de comportamento desviante tudo aquilo que não compreendemos? Assim de repente, lembro-me de já termos andado a queimar mulheres na fogueira e de querermos “curar” homossexuais porque a coisa nos metia espécie.
Moral do post: E meterem-se na vossa vida, não? Chiça!
sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010
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3 exclamadores:
Brilhante Carlita!
Concordo em absoluto. Mas é imperativo recordar a cultura americana. E essa é bem diferente da nossa. Nem melhor nem pior. Diferente.
Nem mais! Concordo em absoluto.
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