quarta-feira, 31 de março de 2010



No mais recente passo de aproximação à União Europeia, de cujos subsídios precisa desesperadamente para relançar a economia, a Sérvia apresentou publicamente desculpas pelos acontecimentos de Srebrenica, em Julho de 1995.
Poucos meses antes da assinatura dos acordos de Dayton, que puseram fim à guerra fratricida de 1991-1995, o enclave entraria nos anais da História pela execução de milhares de bósnios muçulmanos, naquele que foi considerado o maior massacre desde a Segunda Guerra Mundial.


Este é um passo que envergonha a Sérvia e que colhe pouco consenso, tanto no seio do Parlamento como nas ruas. Vastos números de cidadãos sérvios ainda hoje negam responsabilidade sobre Srebrenica, sobre Bihac e sobre tantos outros episódios infelizes da região. Mas, para além disso, há quem ache que as desculpas não devem vir só de um lado. Como advoga um grande amigo sérvio - e com a minha total concordância - “podem ter sido os sérvios a abrir as hostilidades, mas não estiveram sozinhos nelas e não foram os únicos a errar”.

Depois desta declaração pública de culpa, seria positivo ver também um mea culpa dos restantes envolvidos no conflito.

No caso particular de Srebrenica, gostava de ver nem que fosse um pequenino das Nações Unidas. A UNPROFOR, a força responsável pela administração da área segura de Srebrenica, falhou rotundamente na sua missão e permitiu que mais de 8.000 jovens bósnios fossem literalmente chacinados quando o enclave caiu sob domínio sérvio. Enquanto isso, os capacetes azuis recuavam para Tuzla, sem terem sequer tentado defender o território que supostamente guardavam - disparar tiros de aviso e foguetes de sinalização não conta. Para os homens e rapazes de Srebrenica, com idades entre os 15 e os 60 anos, de nada serviu a presença dos holandeses que, sob os auspícios das Nações Unidas, defendiam a zona (supostamente) desmilitarizada.

Quanto ao conflito em geral, é preciso não esquecer que, para além de Ratko Mladic, houve também um Ante Gotovina, croata e também ele indiciado por crimes de guerra pelo Tribunal Penal Internacional. A 5 de Agosto de 1995, uma data que a Croácia consagra como feriado nacional, foi a vez de as forças croatas ganharem o controlo da região de maioria sérvia da Krajina. Repetiram-se as perseguições, as execuções, os incêndios e demais actos que nos envergonham a todos e que merecem também um sentido pedido de desculpas.

Resumindo e baralhando, ao contrário do que é opinião geral, os sérvios não são os únicos culpados deste conflito e não são os únicos que devem ser pressionados a reconhecer os seus erros.

Quando terminei a licenciatura, pensei fazer uma investigação sobre a forma como os media desenham verdadeiras personagens, de contornos firmes e definidos, usando a diabolização dos sérvios como case study. Mas disseram-me que estava mais para tese de mestrado do que para de licenciatura. Talvez um dia decida fazer um mestrado…

Notícia no Público

Nota da redacção: falar sobre os Balcãs e não transformar o texto numa tese de mestrado... isso, sim, foi um parto complicado. :)
Saudades de Sarajevo

terça-feira, 30 de março de 2010

A Single Man


As primeiras impressões que me traçaram deste filme foi que era um filme demasiado parado. Pensei logo “ora ai está um bom filme para não se ver durante a semana ou numa sexta”. No entanto acabei por o fazer. E em boa hora.
O realizador Tom Ford é um estilista. Não é um realizador. A sua principal ligação ao cinema foi o guarda roupa do Quantum of Solace (um dos piorzinhos Bonds que me lembro) e estaria a anos luz de pensar que seria o realizador de um dos melhores filmes que vi nos últimos tempos.

“A Single Man” é um exercício de realização brutal. Uma primeira cena brutal, uma última cena brutal, e pelo meio, a que para mim é a melhor cena do filme, uma corrida em desespero do protagonista (o enorme Colin Firth) em que apenas se ouvem pingos de chuva.

Todo o filme tem planos fantásticos, mudanças de cor, tentativas de exprimir emoção através da imagem. Volto a repetir: é um exercício de realização brutal.

Quanto à sinopse… Bem… Um casal homossexual nos anos 60 em Los Angeles separado por um acidente de automóvel que fatalmente vitíma o parceiro de George Falconer (Colin Firth). Este professor de inglês decide terminar a sua vida, por não aguentar a perda do companheiro. No entanto no dia que o decide fazer vive vários episódios, tanto com a sua melhor amiga Charley (Julianne Moore), como com possíveis novos amores. O “twist” final é fantástico e talvez inesperado.

Brilhante interpretação quer do Colin Firth (ao qual estou mais habituado a ver em comédias românticas estilo Mamma Mia, Love Actually ou Bridget Jones) quer da Julianne Moore. Acerca da realização já disse tudo: fantástica.

Daqueles filmes em que fico até ao fim… prestando homenagem à ficha técnica.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Dedo na ferida - A liberdade de imprensa na Madeira



Crónica de Luís Calisto, director do DN Madeira, sobre o grave estado da liberdade de imprensa na ilha. Depois de tanta conversa sobre a alegada tentativa de domínio dos media por José Sócrates, não deixa de ser engraçado colocar tudo em perspectiva.


Aquilo é um polvinho
Continentais dizem deter o recorde de agressões aos media. Que tal virem à Madeira?


O 'polvo' que estupora o panorama nacional dos media pode vir a proporcionar uma grande caldeirada. Porém a verdade é que ainda não passa de um polvinho. Um projecto de monstro alimentado por suspeitas, indícios, diz que disse, escutas publicadas às prestações, hipóteses, interpretações subjectivas, leituras partidárias tendenciosas, acusações e desmentidos, episódios e desculpas esfarrapadas.

Portugal está em choque. Exige-se - e muito bem - esclarecimento cabal das acusações expressas de que havia um plano do governo de José Sócrates para tomar conta da comunicação social. Havia um plano. Que acontecerá naquele Continente se um dia se comprovar que o plano já resultou, como na Madeira?

A Face Oculta mostra indícios fortes de que Sócrates queria ver a PT, através da Ongoing, comprar a TVI, a fim de o governo se ver livre de Manuela e seu Jornal Nacional e do chefão Eduardo Moniz. Escândalo badalado no País, como é mais do que natural. Mas... e se Sócrates, mais do que querer, já tivesse comprado a TVI, alimentando-a com dinheiros públicos e proibindo a estação de divulgar a opinião de políticos não PS, reservando toda a antena para quem obedece ao regime rosa, tal como Jardim faz aqui com o Jornal da Madeira, dispensando-se de guardanapo? Fizesse-o Sócrates e o País estaria hoje em situação de guerra civil.

Por ora, o que passa um pouco além da suspeita é que Sócrates esteve na origem do cancelamento de um noticiário semanal, o "Nacional" da sexta-feira de Manuela Moura Guedes. Levantaram-se protestos mais do que justos em todas os quadrantes da vida portuguesa. Mas imaginemos que, em lugar de um só noticiário semanal, Sócrates decidia fechar por inteiro um órgão de comunicação com mais de 130 anos e para isso usava todos os meios financeiros públicos necessários e todos os métodos ilegais, exactamente como Jardim faz na Madeira, no seu projecto assumido de levar o Diário de Notícias à falência? Ou então, de que grau na escala de Richter seria o terramoto na capital se Sócrates ameaçasse expropriar um jornal? Foi o que Jardim fez relativamente ao Diário, aliás com todo o País a ouvir.

José António Saraiva do 'Sol' e a 'Sábado' atribuiram aos desígnios de Sócrates a interferência governamental nos jornais, através da redução de publicidade institucional nos órgãos incómodos e do aumento nos mais 'amigos'. A ERC, e muito bem, logo chamou os autores da denúncia para saber o que se estava a congeminar. Então... e se, mais do que a tentativa de usar a publicidade como castigo ou prémio, o governo de Sócrates tivesse mesmo cortado há mais de dez anos os anúncios oficiais a um órgão para os canalizar todos ao jornal da sua cor, tal como faz na Madeira o dr. Jardim? Que, além de negar publicidade ao Diário para a entregar ao JM, e ainda intimidar nos discursos públicos os empresários que anunciam no Diário, mandou que todos os órgãos públicos cortassem a assinatura do DN, incluindo escolas. Sócrates, que com toda a lógica paga já pelo atrevimento da 'tentativa de interferência', onde já não andaria se chegasse ao cúmulo que Jardim pratica nesta Região, com dinheiros públicos!

Que aconteceria naquela Lisboa e arredores se Sócrates resolvesse governamentalizar o DN de lá até 99% do capital, injectar-lhe uma fortuna diariamente, e depois, apesar do crescendo assustador do passivo, torná-lo gratuito e agravar ainda mais as despesas com o aumento da tiragem e alargamento desenfreado da distribuição, tudo com a ambição de fechar os que não domina? Como reagiriam Correio da Manhã e Público, por exemplo, e quantos dias mais aguentaria Sócrates no poder? Pois é essa situação que existe na Madeira, sem tirar nem pôr, e bem à vista de todos.

Sócrates foi acusado, neste final de semana, de andar a gizar uma tramóia tendo em vista controlar o DN-Lisboa, o JN-Porto e a TSF. Com essa 'bomba', o 'Sol' vendeu duas ou três edições no mesmo dia. Os leitores, com toda a naturalidade, quiseram conhecer o escândalo por dentro. Mas vamos que o 'Sol', mais do que contar uma história ilustrada com frases soltas extraídas das escutas, confirmava com letras garrafais umas diligências concretas de Sócrates para mudar directores e sanear jornalistas, como se tem visto na Madeira de há anos para cá, com sucesso em alguns casos?

Sócrates foi criticado por atacar Manuela Moura Guedes - e muito bem criticado, pela falta de respeito e pelo menoscabo com que tratou uma profissional da informação, como legitimamente se realçou na altura. E se Sócrates fizesse como o sr. Jardim, que calunia, insulta e enxovalha diariamente os jornalistas com epítetos de corruptos, traidores, comunas, súcias, fascistas, tolos, incapazes, incultos, vingativos, desonestos, gente reles, mentes recalcadas, bastardos, exóticos, incumpridores de estatutos editoriais, ralé que não toma banho? E as jornalistas de vendidas, descompensadas, sovaqueiras...? Que seria de um Sócrates cavalgando tal paradigma?

É claro - dirá algum leitor continental -, é claro que se Sócrates ou sátrapa mais bem pintado se atrevesse a tanto no Continente, sairia muito maltratado da refrega. O governo tem uma Constituição para respeitar. O patibular Cavaco Silva, que em tempos não lia jornais nem olhava de frente para os jornalistas, mas isso quando era primeiro-ministro de centro-direita, o 'homem do leme' puxaria da Constituição para fazer cumprir o texto de 1976. Sem vacilar, demitiria o candidato a ditador. E com todo o apoio nacional. Mas mesmo afectado por indícios e meras suspeições, Sócrates não está livre de cair. Quanto mais se repetisse as ilegalidades tornadas banais na Madeira!

Pois. Cá para a parvónia é que não há Constituição a cumprir. O Presidente da República tem a queixa do Diário nas mãos e, quando veio cá, elogiou a "obra" de Jardim (obra da Madeira Nova que por acaso está a ser derretida pela chuva, tirando aeroporto e algumas vias rápidas). Quanto ao resto, Cavaco pediu paciência, já que "isto está perto do fim". Ou seja, vivamos em estado de sítio, sem Constituição, até ver, e não rebusquemos embaraços que desenterrem o "Sr. Silva".

ERC, Jaime Gama, Almeida Santos, Manuela Ferreira Leite, Paulo Rangel, PS e oposição nacional, todos têm conhecimento do estado da comunicação social insular. Mas vivem entretidos com o 'polvinho' que brinca no Mar da Palha e no lago de Entrecampos. Preferem fingir que ignoram o polvão de braços longos e viscosos que sufoca a liberdade de informar na Madeira. Esse molusco predador que há 30 anos usa as medonhas ventosas para se alimentar a si próprio e a seus validos, que continua a turvar a vista dos Madeirenses cobrindo a babugem com a sua sinistra tinta camuflante.

Solidarizemo-nos com as vítimas continentais das escandalosas suspeições. Aquilo vai tão mal por lá em matéria de atentados ao jornalismo que o próprio Jardim desabafou à porta do Conselho Nacional PSD, escandalizado com a falta de respeito pela liberdade de imprensa no Continente: "Num País com a tradição democrática como a Inglaterra, Sócrates já não era primeiro-ministro." Ninguém nos contou esta declaração. Ouvimo-la na rádio.

Luís Calisto

sexta-feira, 26 de março de 2010

Bush...no seu melhor!

Bush limpa a mão à camisa de Bill Clinton, após cumprimentar um haitiano.

Confessemos: já tinhamos saudades das gaffes deste senhor!

Aqui.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Facebook já é doença?

Claro que é doença, basta ver os nomes dos grupos que o pessoal cria: "Grupo dos Benfiquistas que querem ir à lua com o Barbas", por exemplo.
Já para não falar da minha timeline, inundada de mensagens iguais às de um mês atrás. Beijinhos, prendinhas, biscoitinhos.
Pronto, agora que já disse mal do Facebook, já me podem mandar com fruta podre... daquela da quinta...

terça-feira, 23 de março de 2010

Health... we can believe in


Quando pela primeira vez fui “apresentado” à história de Barack Obama fiquei conquistado.
As origens humildes, as acções comunitárias em Chicago e toda a retórica que advogava tornavam-no especial.

Uma “pedrada no charco” american way.

De outsider perante a favorita Hillary Clinton até à 44ª presidência Americana foi um passo.

Obama, contra todos os prognósticos iniciais tornou-se presidente. E o discurso da Esperança substituiu os “bushismos” dos anos anteriores. E uma esponja passou pela justificação da guerra no Iraque.
Obama transmitiu serenidade e paz aos povos. Apesar de não retirar as tropas do Iraque (como prometera) recebeu um Nobel da Paz. Polémico. No entanto procurou sempre promover o diálogo, inclusive com o Irão. E a sua administração não evitou apontar o dedo a Israel na questão dos Colonatos. Algo impensável anos atrás.

Penso que o maior problema de Obama é (e será) tentar “mexer” com demasiados interesses instalados. E quem (como eu) viu a comédia “The Distinguished Gentleman” sabe do que estou a falar. É mais que uma paródia. É uma sátira ao sistema político americano.

Adiante…

Esta semana Obama teve a sua primeira grande vitória. Conseguiu um sistema de saúde mais justo para os americanos. Isto obviamente diz-nos pouco. Estamos habituados a um (que não é perfeito e tem falhas mas…). Os americanos não. Quem tem Seguro de Saúde tem os cuidados garantidos. Quem não tem… (já agora e na “onda” cinéfila aconselho o “Sicko” do Michael Moore para melhor perceber o que digo)

Obama venceu. Os Americanos venceram. Fiquei contente. Mesmo com a distância que nos separa. Física e Culturalmente.

Liberdade de Imprensa (?)

E não é que de vez em quando, o Miguel Sousa Tavares até diz coisas acertadas e num tom assertivo?


"(...) a maior e mais real ameaça à liberdade de imprensa (...) é o tipo de jornalismo que hoje se faz e que é ditado, primeiro que tudo, pela necessidade de vender informação e conquistar audiências a qualquer preço. Os célebres conteúdos que tanto movem os novos patrões da imprensa, são ditados exclusivamente pela vontade de obter lucros e não pelo desejo de prestar um serviço público de informação e formação (...) Ninguém pergunta à Ongoing ou à PT para que querem eles ter uma televisão ou um jornal, quais os seus pregaminhos, o seu curriculo, as suas intenções em matéria jornalística." (Expresso)



Histórias como as do Leandro ou Face Oculta, são apenas mais uns exemplos flagrantes da falta de ética jornalística em nome de um conceito chamado Interesse Público que ninguem sabe definir. De facto, quem deve ditar o que é Interesse Público? O que é, de facto, isso do Interesse Público?


A Comunicação Social enforma, manipula e concorre, sem dúvida, ao pódium dos Grandes Poderes. Para mim, já lá está. Basta olhar, ver e reparar.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Isto está mau...

... está mau para quem não quer fazer nada!!!

Em janeiro sobraram 19 mil vagas nos centros de emprego

terça-feira, 16 de março de 2010

No Name Rangel

Estes Sarrafeiros são tramados

Que grande moral...

... dizerem que os ciganos têm alojamento "deplorável".


Alerta para alojamento "deplorável" de ciganos em Portugal

Quanto vale uma vida?

Aqui.

domingo, 14 de março de 2010

Já me começo a sentir um bocado asfixiada


"O congresso extraordinário do PSD alterou hoje o regime de sanções internas e medidas disciplinares a aplicar a militantes do partido, passando a penalizar as críticas ao líder do partido como uma infracção grave.

A alteração estatutária foi aprovada com o voto favorável de 352 delegados e contra de 76, enquanto 102 delegados optaram pela abstenção."


In Jornal de Negócios

Fico contente por perceber que o PSD é um partido cujos militantes valorizam a livre circulação de ideias e opiniões. Ainda bem que é daqui que vai, muito provavelmente, sair o nosso próximo primeiro-ministro.

E agora, se me dão licença, vou só ali comprar uma garrafinha de oxigénio!

segunda-feira, 8 de março de 2010

And The Oscar Goes To... *




A Lista pode ser consultada aqui.

Não posso dizer que me sinto surpreendido. O filme que apontei como favorito foi o grande vencedor da noite. "The Hurt Locker" recebeu 6 estatuetas, vencendo o duelo com o "Avatar" (remetido para 3 em categorias técnicas).

Uma grande vitória do Cinema Independente.

Confesso que não vi (ainda) grande parte dos filmes mas também apontava o Christoph Waltz como vencedor do melhor actor secundário (era demasiado injusto caso não o vencesse... e conseguiu).

De resto, como ainda não vi a performance nem da Sandra Bullock nem do Jeff Bridges, deixo essas análises para mais tarde...Ou em caso de conhecimento de causa, para qualquer um de vocês.


* ou algo semelhante

domingo, 7 de março de 2010

K!

Alguém se lembra desta brilhante publicação dos anos 90, sob alçada do Miguel Esteves Cardoso?


sexta-feira, 5 de março de 2010

São os chamados "suissinhos"

Aqui

Ok Go



Não conhecia os Ok Go mas parece que os senhores já são conhecidos pelos seus vídeos. Nada comparado com a instalação que montaram para o vídeo do seu mais recente single, This Too Shall Pass.
A música nem é má.

Leya...



... ou deixem ler...

quarta-feira, 3 de março de 2010

Ich bin ein Berliner

É a primeira vez que escrevo acerca de viagens para o nosso espaço. E é um prazer escrever acerca de Berlim.

Berlim é daquelas cidades que já há alguns anos que desejava visitar. Ouvia relatos do ambiente da cidade, das diferenças entre a parte Oriental e Ocidental, dos resquícios do “Império Soviético”, do culto da velha “DDR” e sobretudo de uma cidade vibrante, que à semelhança de Nova York (dizem), nunca dorme.

Berlim foi uma surpresa. Das boas. E foi uma surpresa porque o primeiro impacto não foi favorável. Chegámos numa quinta feira com um céu cor de chumbo. O aeroporto de Tegel parecia um postal dos anos 80. Pequeno e com uma arquitectura distante. Quadrada. Apanhado o Bus para o nosso destino (Alexanderplatz) viajámos por ruas cinzentas e de aspecto frio. Gelo negro acumulava-se nos passeios. Fruto do frio e da poluição automóvel. Saímos em Alexanderplatz e uma curta viagem a pé separava-nos do nosso hotel, no Mitte. Coração da velhinha Berlim Leste. Os semáforos chamavam a atenção. O Ampelmaennchen (merece uma visita à wikipédia) é uma das imagens de culto da cidade.

Após abandonarmos o Hotel, um almoço na zona. O sítio escolhido foi o “Der alte Fritz” na Karl-Liebknecht-Straße. Um restaurante tipicamente alemão. Bom. E não muito caro (Berlim, diz-se, é das cidades mais baratas da Alemanha). Destaco o som ambiente. Grandes êxitos dos… anos 80. Depois, a caminho da estação de Alexanderplatz e do nosso ponto de encontro: o pub Brauhaus Mitte. Em frente à estação e à imponente torre Berliner Fernsehturm. Hoje um miradouro panorâmico.

Depois de uns dedos de conversa já acompanhados do restantes amigos que por um pouco de toda Europa ocidental se tinha juntado a nós (ok, a justificação da viagem foi o Hertha-Benfica), a deslocação para o Olímpico de Berlim e o jogo propriamente dito. Foram os 90 minutos mais aborrecidos que passei em Berlim. No entanto o Estádio é imponente. Uma obra arquitectónica impressionante. Um empate sem grande sabor e rapidamente decidimos onde iríamos jantar… Um restaurante português em Berlim: o “Casa Algarvia” na Goethestraße. Peixe grelhado, uma viagem de táxi para o hotel (com um taxista simpático que apesar de apenas falar alemão nos mostrava os monumentos pelo caminho, com destaque para a Berliner Siegessäule e a Brandenburger Tor .

O primeiro dia estava completo. E já tinha uma imagem completamente diferente da cidade daquele primeiro impacto. Berlim começava a fascinar-me.

O dia seguinte começou mais tarde do que o esperado. Abandonámos o Hotel apenas por volta das 10h e com o nosso plano estava traçado fomos descendo a Karl-Liebknecht-Straße e procurámos um sitio para o pequeno almoço. Escolhemos um pequeno café nas arcadas da Estação. Bolas de Berlin obviamente. Começamos depois a visita “turística” da cidade. A Berlin Rathaus (a Câmara Municipal) ficava nas imediações. Metemos os pés na neve que prenchia o que porventura é um bonito jardim à sua frente.

Continuámos a descer a Unter den linden tendo como ponto de chegada a Brandenburger Tor. Provavelmente o mais conhecido monumento da cidade. Pelo caminho a Universidade, a ilha dos Museus, a Catedral de Berlim e o Rio Spree. Gelado. Bonecos de neve num largo perto do rio. E apesar do frio (apenas frio, porque raramente choveu) muita gente andava pelas ruas. E muitos turistas também. Perto da Brandenburger Tor a animação do costume. Artistas de rua trajando fardas militares (americanas ou soviéticas) procuravam os estrangeiros para as fotos da praxe. Passámos as arcadas. Virámos à esquerda. O destino era a Potsdamer Platz e o Sony Center.

Passámos o imponente memorial do Holocausto à nossa esquerda. Um complexo jardim feito de blocos de cimento de diferentes tamanhos em forma de lápide. Tentam representar um enorme cemitério dos 6 milhões de judeus vitimas do Holocausto. Chegámos à Potsdamer Platz e vimos pedaços do muro expostos. Alguns funcionários (municipais?) envergavam coletes e prestavam informações aos turistas. Descobrimos o Sony Center. E o Festival de Cinema de Berlim ocupava quase todo o destaque dessa fantástica obra de arquitectura futurista.

Almoçamos fast food. Tinha de ser. Apanhámos a StresemannStraße e NiederkirchnerStraße. Chegámos à ZimmerStraße e a uma exposição ao ar livre intitulada: “Topographie des Terrors”. Fotos e documentação de horrores da II Guerra Mundial dispostos em enormes placards num jardim onde anteriormente fora o Quartel General das SS e da Gestapo. Colada ao jardim está uma fachada do Muro que nunca foi removida (a segunda maior de Berlim, depois da East Side Gallery).

Avançámos para o “mítico” Check Point Charlie. Curiosamente esta zona não está vedada ao trânsito, e os carros podem circular livremente num dos pontos historicamente mais interessantes da anterior divisão da cidade. A zona é dominada por pequenas lojas de “souvenirs” e bancas que vendem memórias da DDR. Além da pequena estrutura do Check Point, saltam à vista a torre metálica com fotos de dois militares que estavam de serviço no dia em que o Muro caiu. Um soviético outro americano. Cada um virado estrategicamente para o lado “inimigo”.

Apanhámos a FriedrichStraße (uma importante artéria comercial) e voltámos à Unter den linden. Sempre a pé. O ponto seguinte seria o Brauhaus Mitte. Juntámo-nos aos nossos amigos e o destino seguinte era o bairro de Köpenick. O objectivo? Um jogo da segunda Bundesliga: FC Union Berlin vs Koblenz. Saimos na estação do S-Bahn (comboio) e fizemos algumas centenas de metros até ao Alte Försterei Stadium. Estádio bastante antigo mas funcional. Ambiente de festa. As habituais bratwurst e as canecas de cerveja acompanhavam. Ficámos na zona “mais quente” dos adeptos locais. O jogo terminou 3-2 para a equipa local. Foram 90 minutos muito mais emocionantes que o jogo do dia anterior. Excelente atmosfera nas bancadas e pela primeira vez vi um jogo arbitrado por uma mulher. Numa divisão profissional da Alemanha. Sintomático…

Voltamos a Berlim pelo S-Bahn. Decidimos o nosso local de jantar: o Ständige Vertretung junto à estação de FriedrichStraße. Alguns minutos de espera e a nossa mesa. O restaurante tinha um ambiente excelente, decorado por diversas fotos de políticos alemães (a história diz que era um dos locais favoritos desta classe na anterior capital Bonn, e foi “expandido” para Berlim quando esta se tornou capital da Alemanha unificada). Todos ficámos surpreendidos pela positiva com o espaço. A comida era excelente e o ambiente acolhedor. Mais uma vez o preço não descambou e aconselho a uma visita. Podem é ter de aguardar um pouco para mesa. É um espaço popular. Para locais e turistas.

O primeiro dia “a sério” de Berlim estava terminado.

No dia seguinte a manhã acordou solarenga. O dia ideal para subir à Berliner Fernsehturm. E vislumbrar toda a cidade. Após deixarmos as malas nos cacifos da estação de Alexanderplatz e do pequeno almoço fomos para a torre. E a primeira surpresa desagradável. As filas eram enormes. Compramos o bilhete (10,50 €) e aguardámos cerca de 40 minutos até ser a nossa altura de subir. Subido o elevador chegamos à cúpula da torre. Como o dia era de sol foi possível observar toda a cidade. A torre tem uma altura de 368m, sendo que a cúpula para as visitas está a 204m do solo. É possível verificar as diferenças arquitectónicas entre ambas as partes da cidade e essa é a principal curiosidade da visita. E a "banda sonora"? Adivinharam... Clássicos dos 80.

Descemos e decidimos ir à BernauerStraße. O objectivo era ver pedaços do muro ainda no seu estado “bruto”. Acompanha o muro uma exposição de cartoons (em alemão e inglês) com relatos engraçados de habitantes de Berlim de aventuras nessa altura. Alguns são de ir às lágrimas. Excelente.

Apanhámos o U-Bahn (metro) e voltámos à Brandenburger Tor. Mais umas fotos da praxe e um dos artistas de rua (que falava umas palavras em português) proporcionou-nos (por 2€) uma das “souvenirs” mais engraçadas da cidade: uma antiga folha de passaporte da DDR com os vistos. A data era a da nossa visita.
Passamos as arcadas e virámos à direita. O objectivo era visitar o Reichstag, mas as enormes filas (enormes mesmo…) fizeram-nos desistir. Apanhámos um autocarro (esqueci-me de referir, o passe diário em Berlim custa 6€ e dá para todos os transportes) e fomos para a zona do Kurfurstendamm. Mais cosmopolita. No entanto ainda vimos uma igreja destruída pelas bombas dos aliados na II Guerra Mundial que continua com fachadas em pé, retratando o período da guerra.

Percorremos as ruas. Procurámos um local para almoçar e acabámos num pequeno restaurante de “pasta” numa das ruas transversais a esta enorme avenida. Com algum tempo para “gastar” porque não uma visita aos arredores? Assim decidimos. U-Bahn até Zittadelle em Spandau. Foi interessante a visita, mas acredito que esta fortaleza do renascimento seja mais interessante no verão. Não demos o tempo como perdido. Visitámos o centro da cidade e voltámos a Berlim. Desta vez de S-Bahn.

Havia alguns problemas com as ligações de comboio, e então decidimos voltar a sair em FriedrichStraße, percorrer esta avenida e a Unter den linden até ao ponto de encontro do costume. Depois, junto com os nossos amigos voltámos a jantar na zona.

Escolhemos (e bem) o Mutter Hoppe, nas arcadas junto à Rathaus. O restaurante foi uma experiência interessante. Ficava numa cave mas parecia uma casa com as suas divisões originais, sendo cada uma delas uma sala de jantar (o hall de entrada era o Bar). Mais uma vez foi uma excelente refeição e uma noite bem passada. Apenas um dos elementos do staff se destacou pela negativa. Continuamente afirmando que a gorjeta na Alemanha era 10% da conta. Acabou por ficar com zero. Paciência.

Após o jantar a noite ainda estava a começar. Como a nossa opção fora não pernoitar no hotel a última noite, já que tínhamos de estar no aeroporto de Tegel por volta das 6h, o objectivo era encontrar algum sitio para passar as horas que faltavam até ao nosso autocarro (por volta das 5h). Percorremos as ruas nas traseiras da Rathaus até encontrar um bar que um dos nossos amigos tinha referenciado. Ficamos por lá um par de horas.

Depois, de volta a Alexanderplatz e a um dos mais bizarros espaços nocturnos onde estive. Uma discoteca techno debaixo da linha do S-Bahn junto à estação. O som era techno puro e duro. Agressivo. Mas naquele momento e com o avançar das horas (e o frio na rua) era o local mais agradável para se estar (isto porque não sabia que o MacDonald’s local estava aberto 24h). Após umas horas decidimos sair, comer algo na zona (correcto… no Mac) e apanhar o Bus para o Tegel. E assim foi. Depois de pequenos atrasos nos voos estávamos de volta a Lisboa.

Fomos recebidos por uma chuvada enorme… coisa que em Berlim nunca vimos.

Conquistou-me esta cidade. Sobretudo pela alma que transborda. Mas isso é daquelas coisas que apenas se consegue viver e nunca transmitir. Visitem Berlim. É uma agradável surpresa. E vale muito a pena. Parece uma viagem no tempo... Acreditem.

E Fotos? Bem... podem ver algumas por aqui.

segunda-feira, 1 de março de 2010

"O Poeta do Piano"


Há dois séculos nascia um dos maiores compositores da nossa história: Fryderyk Chopin. Vale a pena ouvir.

Aqui.

Luzes, câmara...acção?

Hoje o Público decidiu avançar com uma notícia online que dá conta do estado da democracia perante os olhos do eleitorado. "Bateu no fundo", dizem eles, dizemos nós, o eleitorado. Um estudo que apresenta, também ele, soluções, pois bem.

"A votação em lista semifechada. Um sistema misto, com um círculo nacional e listas regionais. Por outras palavras, o eleitor votaria no partido na lista nacional, mas poderia optar também por votar num determinado candidato. O que obriga os partidos a um esforço suplementar nas suas escolhas. Tanto que, no estudo os inquiridos reclamaram uma maior participação na escolha dos deputados."

Uma solução que não satisfaz uma mudança efectiva no que concerne à escolha dos nossos representantes. Em que mudaria mesmo? Ah sim..."maior participação na escolha dos deputados"...Será que algum dia irão fazer um referendo relativamente ao número de deputados no Parlamento? É que queria mesmo era diminuí-los...Isso sim seria uma prática sustentável.

Portanto, mais um estudo que custou milhares e que nos dá uma grande novidade. É certo e sabido que a existência de casos, suposta corrupção, supostos favores, deficiente gestão e falta de seriedade política concorrem para que os índices de credibilidade na nossa democrácia sejam tão baixos. É uma democracia popular, com visibilidade e notoriedade. Claro que é. mas não é credível. Faltam valores a essa plêiade.

A ética e a transparência parecem valores distantes e embora muitas entidades procurem cada vez mais em palavras como desenvolvimento sustentável, responsabilidade social, uma bóia de salvamento, tal não passa justamente disso: uma estratégia de diferenciação num mercado altamente competitivo. Assim vai a política. Assim vai a sociedade.

Mais do que um problema exclusivamente político, temos um problema cultural, social, educacional. Nós, sociedade, formamos, enformamos e elegemos aqueles que serão os nossos representantes que são, por sua vez, "construídos" à nossa imagem e semelhança. Portanto, meus senhores, comecemos pela estrutura, pela base e não pelo topo! Demasiados estudos, demasiada teoria e pouca prática!!