segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mea Culpa, ou, como os jornalistas estão cada vez mais desleixados

Esta manhã, enviei a um amigo uma notícia retirada do Diário Económico, que dava conta de que o afamado restaurante El Bulli iria encerrar portas de vez. Pouco tempo depois, era este meu amigo quem me enviava a resposta, deixando surpreendida alguém que faz vida da informação, do cruzamento das fontes e da confirmação dos factos.

Afinal, o El Bulli não vai dar por finda a sua saga gastronómica e trata-se apenas de mais desses casos em que uma mentira repetida se transforma em verdade. Ou quase. Ao que parece, um tal Andrew Ferren, que escreve para o blog Diner’s Journal do New York Times, lançou o boato e ele foi rapidamente difundido por tudo quanto era jornal, blog e quejandos da Internet. (Para os interessados, saibam que o restaurante vai encerrar durante um tempo, sim, mas para se renovar e pesquisar novos sabores.)


Lembro-me disto a propósito de uma discussão que tive há pouco tempo na redacção. Tratava-se de fazer, ou não, um press pick up de uma notícia acerca da Galp e uns supostos projectos na Venezuela. A coisa envolvia jazidas de petróleo e, a ser verdade, tinha potencial para causar umas belas oscilações no preço da acção. Mas, a coisa fez-me espécie e decidi esperar até conseguir falar com alguém da Galp para confirmar, ou desmentir, a notícia.

No entanto, houve quem discordasse, sob o argumento de que estaríamos apenas a reproduzir a notícia que outros tinham dado e que não viria daí mal ao mundo. Ou seja, a responsabilidade não era nossa, mas sim de quem a veiculou primeiro - um pouco como fazem as crianças quando são apanhadas e apontam sempre o dedo ao menino do lado.

Ora, reproduzir uma notícia de outros sem pelo menos tentar confirmá-la é o mesmo que espalhar aos quatro ventos que o El Bulli vai fechar sem outras fontes que não um colunista do NY Times. O resultado foi que a Galp desmentiu categoricamente a notícia. Ainda bem que nesse dia não andei a enganar os investidores só porque alguém disse que alguém disse.

Corremos à velocidade da luz, o que nem sempre nos deixa espaço para passar a pente fino todas as informações, mas acho que devemos pelo menos ter o pudor de confirmar as gordas.

Posto isto, apresento as minhas desculpas ao Joli por, nem que seja por um bocadinho, lhe ter abalado a existência com uma notícia que não me dei ao trabalho de confirmar. Mea culpa, mea maxima culpa!

2 exclamadores:

Fireal disse...

Nem mais!
Isto faz-me lembrar o clássico "Segundo a Agência Lusa". Assim também eu sou jornalista!

Jojojoli disse...

Desculpas aceites :)

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