quarta-feira, 3 de março de 2010

Ich bin ein Berliner

É a primeira vez que escrevo acerca de viagens para o nosso espaço. E é um prazer escrever acerca de Berlim.

Berlim é daquelas cidades que já há alguns anos que desejava visitar. Ouvia relatos do ambiente da cidade, das diferenças entre a parte Oriental e Ocidental, dos resquícios do “Império Soviético”, do culto da velha “DDR” e sobretudo de uma cidade vibrante, que à semelhança de Nova York (dizem), nunca dorme.

Berlim foi uma surpresa. Das boas. E foi uma surpresa porque o primeiro impacto não foi favorável. Chegámos numa quinta feira com um céu cor de chumbo. O aeroporto de Tegel parecia um postal dos anos 80. Pequeno e com uma arquitectura distante. Quadrada. Apanhado o Bus para o nosso destino (Alexanderplatz) viajámos por ruas cinzentas e de aspecto frio. Gelo negro acumulava-se nos passeios. Fruto do frio e da poluição automóvel. Saímos em Alexanderplatz e uma curta viagem a pé separava-nos do nosso hotel, no Mitte. Coração da velhinha Berlim Leste. Os semáforos chamavam a atenção. O Ampelmaennchen (merece uma visita à wikipédia) é uma das imagens de culto da cidade.

Após abandonarmos o Hotel, um almoço na zona. O sítio escolhido foi o “Der alte Fritz” na Karl-Liebknecht-Straße. Um restaurante tipicamente alemão. Bom. E não muito caro (Berlim, diz-se, é das cidades mais baratas da Alemanha). Destaco o som ambiente. Grandes êxitos dos… anos 80. Depois, a caminho da estação de Alexanderplatz e do nosso ponto de encontro: o pub Brauhaus Mitte. Em frente à estação e à imponente torre Berliner Fernsehturm. Hoje um miradouro panorâmico.

Depois de uns dedos de conversa já acompanhados do restantes amigos que por um pouco de toda Europa ocidental se tinha juntado a nós (ok, a justificação da viagem foi o Hertha-Benfica), a deslocação para o Olímpico de Berlim e o jogo propriamente dito. Foram os 90 minutos mais aborrecidos que passei em Berlim. No entanto o Estádio é imponente. Uma obra arquitectónica impressionante. Um empate sem grande sabor e rapidamente decidimos onde iríamos jantar… Um restaurante português em Berlim: o “Casa Algarvia” na Goethestraße. Peixe grelhado, uma viagem de táxi para o hotel (com um taxista simpático que apesar de apenas falar alemão nos mostrava os monumentos pelo caminho, com destaque para a Berliner Siegessäule e a Brandenburger Tor .

O primeiro dia estava completo. E já tinha uma imagem completamente diferente da cidade daquele primeiro impacto. Berlim começava a fascinar-me.

O dia seguinte começou mais tarde do que o esperado. Abandonámos o Hotel apenas por volta das 10h e com o nosso plano estava traçado fomos descendo a Karl-Liebknecht-Straße e procurámos um sitio para o pequeno almoço. Escolhemos um pequeno café nas arcadas da Estação. Bolas de Berlin obviamente. Começamos depois a visita “turística” da cidade. A Berlin Rathaus (a Câmara Municipal) ficava nas imediações. Metemos os pés na neve que prenchia o que porventura é um bonito jardim à sua frente.

Continuámos a descer a Unter den linden tendo como ponto de chegada a Brandenburger Tor. Provavelmente o mais conhecido monumento da cidade. Pelo caminho a Universidade, a ilha dos Museus, a Catedral de Berlim e o Rio Spree. Gelado. Bonecos de neve num largo perto do rio. E apesar do frio (apenas frio, porque raramente choveu) muita gente andava pelas ruas. E muitos turistas também. Perto da Brandenburger Tor a animação do costume. Artistas de rua trajando fardas militares (americanas ou soviéticas) procuravam os estrangeiros para as fotos da praxe. Passámos as arcadas. Virámos à esquerda. O destino era a Potsdamer Platz e o Sony Center.

Passámos o imponente memorial do Holocausto à nossa esquerda. Um complexo jardim feito de blocos de cimento de diferentes tamanhos em forma de lápide. Tentam representar um enorme cemitério dos 6 milhões de judeus vitimas do Holocausto. Chegámos à Potsdamer Platz e vimos pedaços do muro expostos. Alguns funcionários (municipais?) envergavam coletes e prestavam informações aos turistas. Descobrimos o Sony Center. E o Festival de Cinema de Berlim ocupava quase todo o destaque dessa fantástica obra de arquitectura futurista.

Almoçamos fast food. Tinha de ser. Apanhámos a StresemannStraße e NiederkirchnerStraße. Chegámos à ZimmerStraße e a uma exposição ao ar livre intitulada: “Topographie des Terrors”. Fotos e documentação de horrores da II Guerra Mundial dispostos em enormes placards num jardim onde anteriormente fora o Quartel General das SS e da Gestapo. Colada ao jardim está uma fachada do Muro que nunca foi removida (a segunda maior de Berlim, depois da East Side Gallery).

Avançámos para o “mítico” Check Point Charlie. Curiosamente esta zona não está vedada ao trânsito, e os carros podem circular livremente num dos pontos historicamente mais interessantes da anterior divisão da cidade. A zona é dominada por pequenas lojas de “souvenirs” e bancas que vendem memórias da DDR. Além da pequena estrutura do Check Point, saltam à vista a torre metálica com fotos de dois militares que estavam de serviço no dia em que o Muro caiu. Um soviético outro americano. Cada um virado estrategicamente para o lado “inimigo”.

Apanhámos a FriedrichStraße (uma importante artéria comercial) e voltámos à Unter den linden. Sempre a pé. O ponto seguinte seria o Brauhaus Mitte. Juntámo-nos aos nossos amigos e o destino seguinte era o bairro de Köpenick. O objectivo? Um jogo da segunda Bundesliga: FC Union Berlin vs Koblenz. Saimos na estação do S-Bahn (comboio) e fizemos algumas centenas de metros até ao Alte Försterei Stadium. Estádio bastante antigo mas funcional. Ambiente de festa. As habituais bratwurst e as canecas de cerveja acompanhavam. Ficámos na zona “mais quente” dos adeptos locais. O jogo terminou 3-2 para a equipa local. Foram 90 minutos muito mais emocionantes que o jogo do dia anterior. Excelente atmosfera nas bancadas e pela primeira vez vi um jogo arbitrado por uma mulher. Numa divisão profissional da Alemanha. Sintomático…

Voltamos a Berlim pelo S-Bahn. Decidimos o nosso local de jantar: o Ständige Vertretung junto à estação de FriedrichStraße. Alguns minutos de espera e a nossa mesa. O restaurante tinha um ambiente excelente, decorado por diversas fotos de políticos alemães (a história diz que era um dos locais favoritos desta classe na anterior capital Bonn, e foi “expandido” para Berlim quando esta se tornou capital da Alemanha unificada). Todos ficámos surpreendidos pela positiva com o espaço. A comida era excelente e o ambiente acolhedor. Mais uma vez o preço não descambou e aconselho a uma visita. Podem é ter de aguardar um pouco para mesa. É um espaço popular. Para locais e turistas.

O primeiro dia “a sério” de Berlim estava terminado.

No dia seguinte a manhã acordou solarenga. O dia ideal para subir à Berliner Fernsehturm. E vislumbrar toda a cidade. Após deixarmos as malas nos cacifos da estação de Alexanderplatz e do pequeno almoço fomos para a torre. E a primeira surpresa desagradável. As filas eram enormes. Compramos o bilhete (10,50 €) e aguardámos cerca de 40 minutos até ser a nossa altura de subir. Subido o elevador chegamos à cúpula da torre. Como o dia era de sol foi possível observar toda a cidade. A torre tem uma altura de 368m, sendo que a cúpula para as visitas está a 204m do solo. É possível verificar as diferenças arquitectónicas entre ambas as partes da cidade e essa é a principal curiosidade da visita. E a "banda sonora"? Adivinharam... Clássicos dos 80.

Descemos e decidimos ir à BernauerStraße. O objectivo era ver pedaços do muro ainda no seu estado “bruto”. Acompanha o muro uma exposição de cartoons (em alemão e inglês) com relatos engraçados de habitantes de Berlim de aventuras nessa altura. Alguns são de ir às lágrimas. Excelente.

Apanhámos o U-Bahn (metro) e voltámos à Brandenburger Tor. Mais umas fotos da praxe e um dos artistas de rua (que falava umas palavras em português) proporcionou-nos (por 2€) uma das “souvenirs” mais engraçadas da cidade: uma antiga folha de passaporte da DDR com os vistos. A data era a da nossa visita.
Passamos as arcadas e virámos à direita. O objectivo era visitar o Reichstag, mas as enormes filas (enormes mesmo…) fizeram-nos desistir. Apanhámos um autocarro (esqueci-me de referir, o passe diário em Berlim custa 6€ e dá para todos os transportes) e fomos para a zona do Kurfurstendamm. Mais cosmopolita. No entanto ainda vimos uma igreja destruída pelas bombas dos aliados na II Guerra Mundial que continua com fachadas em pé, retratando o período da guerra.

Percorremos as ruas. Procurámos um local para almoçar e acabámos num pequeno restaurante de “pasta” numa das ruas transversais a esta enorme avenida. Com algum tempo para “gastar” porque não uma visita aos arredores? Assim decidimos. U-Bahn até Zittadelle em Spandau. Foi interessante a visita, mas acredito que esta fortaleza do renascimento seja mais interessante no verão. Não demos o tempo como perdido. Visitámos o centro da cidade e voltámos a Berlim. Desta vez de S-Bahn.

Havia alguns problemas com as ligações de comboio, e então decidimos voltar a sair em FriedrichStraße, percorrer esta avenida e a Unter den linden até ao ponto de encontro do costume. Depois, junto com os nossos amigos voltámos a jantar na zona.

Escolhemos (e bem) o Mutter Hoppe, nas arcadas junto à Rathaus. O restaurante foi uma experiência interessante. Ficava numa cave mas parecia uma casa com as suas divisões originais, sendo cada uma delas uma sala de jantar (o hall de entrada era o Bar). Mais uma vez foi uma excelente refeição e uma noite bem passada. Apenas um dos elementos do staff se destacou pela negativa. Continuamente afirmando que a gorjeta na Alemanha era 10% da conta. Acabou por ficar com zero. Paciência.

Após o jantar a noite ainda estava a começar. Como a nossa opção fora não pernoitar no hotel a última noite, já que tínhamos de estar no aeroporto de Tegel por volta das 6h, o objectivo era encontrar algum sitio para passar as horas que faltavam até ao nosso autocarro (por volta das 5h). Percorremos as ruas nas traseiras da Rathaus até encontrar um bar que um dos nossos amigos tinha referenciado. Ficamos por lá um par de horas.

Depois, de volta a Alexanderplatz e a um dos mais bizarros espaços nocturnos onde estive. Uma discoteca techno debaixo da linha do S-Bahn junto à estação. O som era techno puro e duro. Agressivo. Mas naquele momento e com o avançar das horas (e o frio na rua) era o local mais agradável para se estar (isto porque não sabia que o MacDonald’s local estava aberto 24h). Após umas horas decidimos sair, comer algo na zona (correcto… no Mac) e apanhar o Bus para o Tegel. E assim foi. Depois de pequenos atrasos nos voos estávamos de volta a Lisboa.

Fomos recebidos por uma chuvada enorme… coisa que em Berlim nunca vimos.

Conquistou-me esta cidade. Sobretudo pela alma que transborda. Mas isso é daquelas coisas que apenas se consegue viver e nunca transmitir. Visitem Berlim. É uma agradável surpresa. E vale muito a pena. Parece uma viagem no tempo... Acreditem.

E Fotos? Bem... podem ver algumas por aqui.

6 exclamadores:

Anônimo disse...

Tambem gostei muito da cidade mas quando fui nao havia neve mas o sol tava lá :) o resultado foi o mesmo,e nao gostaste do Estadio porque nao bebeste umas canecas de cerveja ;)

Ricardo disse...

Do Estádio gostei... o ambiente é que é fraquinho eheheh

Andreia disse...

Convenceste-me! Berlim terá seguramente, este ano, a minha presença! =)

Patrícia Luz disse...

Quero ir lá o qto antes! Já ouvi falar maravilhas e o teu testemunho reforçou :)

Carlita disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlita disse...

Que saudades de Berlim. Já lá fui há alguns anos, mas está sem dúvida no Top das minhas cidades europeias preferidas, onde constam coisas tão "fora" como Belgrado e Sarajevo. Tem alma, como dizes. Não se explica, mas sente-se bem.

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